Presente

além do Tempo

Clique no player para ouvir a história.
Para melhor aproveitamento, utilize fones de ouvido.

I

É Pessach, a Páscoa Judaica em Jerusalém. No décimo sétimo ano do imperador Tibério César, no vigésimo sétimo dia do mês de março. Podemos ver que hoje nada tem de comum com os outros dias de Pessach, pois o que está para acontecer mudará para sempre o curso da história.

Nesta manhã de sexta-feira, o ar parece carregado de uma tensão palpável, como se a própria cidade segurasse a respiração. Há uma energia estranha pairando, uma mistura de expectativa, medo e incredulidade. Para os discípulos de Jesus, a manhã traz mais que um pressentimento, é quase uma terrível certeza de que algo irreversível está para acontecer e, acima de tudo, uma sensação de que esta sexta-feira não será como qualquer outra.

Jesus foi preso de madrugada e entregue ao Sinédrio para ser interrogado, foi levado a Pilatos e finalmente conduzido pela guarda romana a um lugar chamado Gólgota. Eram nove horas da manhã.

Visível para quem passa, o Gólgota é uma área aberta e elevada fora das muralhas de Jerusalém, onde pessoas sentenciadas são expostas e o povo pode assistir aterrorizado às cenas protagonizadas pelos soldados romanos. Ali estão todos os personagens desta história, uns indiferentes executores, outros com corações despedaçados pela dor.

E, de repente, a escuridão baixou sobre toda a cidade em pleno meio-dia, a terra tremeu, as rochas se partiram, a noite se fez presente enquanto ainda era dia.

O farfalhar do vento é superado por um som maior, e às três horas da tarde, Jesus grita em voz alta:

“Eli, Eli, Lamah shavahhtani!”

“(Deus, Deus, como me glorificaste!)”

(*1)

Pedro, um dos discípulos, que observava de longe o que se passava no Gólgota, espanta-se ao ver a imagem do Senhor próximo de si, mais acima nas árvores, e diz:

“O que eu vejo, ó Senhor? Que és tu mesmo quem eles levam, e que tu me seguras? Ou quem é este, alegre e rindo na árvore? E é outro cujos pés e mãos eles são marcantes? O Salvador disse-me:”

Jesus responde:

“Aquele que viste na árvore, alegre e sorridente, este é o Jesus vivo. Mas este em cujas mãos e pés eles cravam é a sua parte carnal, que é o substituto envergonhado, aquele que veio a ser à Sua semelhança. Mas olhe para ele e para mim.”

Mas Pedro, ao olhar, diz:

“Senhor, ninguém está olhando para você. Vamos fugir deste lugar.”

O Mestre sentencia:

“Eu já́ lhe disse: ‘Deixe os cegos em paz!’”

(*2)

II

Um certo homem, de nome José, conselheiro da cidade de Arimateia, foi ter com Pilatos e pediu o corpo de Jesus. José de Arimateia era um homem respeitado entre os judeus, um membro do Sinédrio que, embora discreto, acreditava que Jesus era um justo. Ao ver seu Mestre crucificado, sentiu no coração a necessidade de dar-lhe um sepultamento digno.

Com coragem, dirigiu-se ao governador romano da Judeia e pediu autorização para levar o corpo. Seu pedido foi concedido e ele levou-o ao túmulo novo, que pertencia à sua família, um local reservado para os seus. Ali seguiram os costumes da época: envolveram o corpo com faixas de linho e especiarias aromáticas, como era a tradição judaica. José de Arimateia envolveu-o num lençol limpo e colocou-o num túmulo cortado na rocha, no qual nunca ninguém havia sido deposto. Ele estava acompanhado de Nicodemos.

(*3)

Com reverência e pesar, fecharam a entrada do sepulcro com uma grande pedra. Pareciam apressados, pois o Shabat estava prestes a começar, e nenhuma atividade poderia ser realizada nesse dia sagrado. Silenciosamente, José de Arimateia e Nicodemos partiram.

III

Na manhã de domingo, terminado Shabat, algumas mulheres caminham pelas ruas ainda desertas em direção a um jardim perto do Gólgota. Querem terminar a tarefa iniciada por José de Arimateia e Nicodemos, que fora interrompida pelo sábado. Carregam perfumes e especiarias aromáticas.

Uma delas caminha um pouco mais à frente; é Maria de Magdala. Envolta em profunda tristeza, seu coração está pesado. Aos pés da cruz, ela havia testemunhado o último suspiro de Jesus e se pergunta:

“Quem rolará para nós a pedra?”

O sepulcro fora fechado com uma grande pedra e, sem ajuda, não conseguiriam entrar.

Quando chegam, a pergunta se torna irrelevante, pois a pedra já fora rolada. Outra pergunta vem, imediatamente: quem teria feito isso? Talvez um grande tremor? Outro tremor? Mateus, em seus relatos, diria que sim.

Intrigadas, elas correm e entram no sepulcro. Está vazio.

Na manhã de domingo, terminado Shabat, algumas mulheres caminham pelas ruas ainda desertas em direção a um jardim perto do Gólgota. Querem terminar a tarefa iniciada por José de Arimateia e Nicodemos, que fora interrompida pelo sábado. Carregam perfumes e especiarias aromáticas.

Uma delas caminha um pouco mais à frente; é Maria de Magdala. Envolta em profunda tristeza, seu coração está pesado. Aos pés da cruz, ela havia testemunhado o último suspiro de Jesus e se pergunta:

“Quem rolará para nós a pedra?”

O sepulcro fora fechado com uma grande pedra e, sem ajuda, não conseguiriam entrar.

Quando chegam, a pergunta se torna irrelevante, pois a pedra já fora rolada. Outra pergunta vem, imediatamente: quem teria feito isso? Talvez um grande tremor? Outro tremor? Mateus, em seus relatos, diria que sim.

Intrigadas, elas correm e entram no sepulcro. Está vazio.

“Onde está o corpo do Senhor Jesus?” Elas se perguntam.

Imaginem como devem ter ficado perplexas, sem saber o que fazer. Neste mesmo instante, dois homens com roupas que brilhavam como a luz do Sol se colocam ao lado delas.

Quem seriam? Anjos?

Um deles pergunta:

“Estão procurando Jesus, o Nazareno, que foi crucificado? Ele não está aqui, ressuscitou como havia dito. Vão e contem aos discípulos o que viram.”

As mulheres saíram correndo amedrontadas, mas cheias de alegria.

Maria Madalena corre mais à frente quando, de repente, depara-se com um homem que ela pensa ser o jardineiro:

“Mulher, por que choras? A quem procuras?”

Maria, ainda sem reconhecê-Lo, suplicou:

“Senhor, se tu O levaste, dize-me onde O puseste, e eu O levarei.”

Então, Ele disse uma única palavra:

“Maria.”

A voz era familiar, suave, cheia de amor e autoridade. O coração dela pareceu parar por um instante.

“Mestre!”, exclamou, caindo de joelhos e estendendo a mão para tocá-Lo.

Jesus vai ao encontro delas e diz:

“Eu as saúdo! Não tenham medo; digam aos meus irmãos para irem à Galileia; lá eles me verão.

(*4)

Ao encontrar os discípulos novamente, seu rosto irradiava uma luz diferente.

“Eu vi o Senhor!”, anunciou, sua voz cheia de emoção, e contou tudo o que havia acontecido, cada palavra, cada detalhe. Aos poucos, a incredulidade nos olhos dos discípulos deu lugar à fé, à esperança renovada.

Após receber a notícia de Maria Madalena, Pedro e João correram para o sepulcro. É possível imaginá-los entrando na tumba e não encontrando o corpo do Mestre. Jesus tinha predito sua ressurreição, mas eles não acreditaram. E agora, teria sido suficiente para que pudessem crer?

IV

Dias se passam, e João ainda está cheio de dúvidas, mas sua alma buscadora não se confunde. Ele anda pelas ruas de Jerusalém e é questionado por muitos sobre onde está seu Mestre. Seu coração está inquieto, sente dificuldade em entender o que aconteceu.

Então, Jesus aparece para João:

“João, por que temes e duvidas quando venho a ti? Esta aparição não pode ser-te estranha. Não tenhas medo, pois sou eu, aquele que sempre está contigo… Ora, eu vim revelar-te o que é, o que foi e o que acontecerá, para que reconheças tanto o visível quanto o invisível e para ensinar-te sobre o Homem perfeito…”

(*5)

V

E para a Galileia, onde foi a origem de tudo, os discípulos regressam atendendo a um chamado:

“Voltem aonde tudo começou, ao início do evangelho”.

Jesus, cumprindo mais uma de suas promessas, aparece primeiro aos seus discípulos mais próximos. À margem do grande lago, orienta-os sobre a pesca ao ponto de encher as redes de peixes novamente. Prepara-lhes uma refeição de pão e peixes e, depois de comerem, Ele pergunta a Pedro por três vezes:

“Simão, filho de João, amas-me?”

Pedro responde todas as vezes afirmativamente, então Jesus lhe disse:

“Apascenta minhas ovelhas… Segue-me”

(*6)

Jesus aparece também para mais de quinhentas pessoas e ensina novamente:

“Vão e façam discípulos em todas as nações … Eu estarei sempre com vocês.”

(*7)

Juntas, todas as histórias de aparições deixam claro que Jesus não está entre os mortos, e sim entre os vivos. Ele se manifesta de um modo totalmente novo, não está mais confinado ao tempo e ao espaço, é uma figura do presente.

Outros, ao longo deste período, provaram da experiência de testemunhar suas aparições, mas essa experiência não é essencial, pois Ele mesmo diz a Tomé:

“Bem-aventurados os que não viram e acreditaram.”

(*8)

Jesus ensina um Novo Mandamento:

“Tal como me amou o Pai, assim eu vos amei. Permanecei no meu amor … Este é o meu mandamento: que vos ameis uns aos outros, tal como eu vos amei.”

(*9)

E deixa um novo significado para a Páscoa:

Vida Eterna.

Referências:

(*1) – Edições mais recentes do Novo Testamento substituem “Eli, Eli, Lamah sabachtani.” que foi traduzido por “Eli, Eli, porque me desamparaste.” Pelo verbo shavahh que significa trazer paz, glorificar e consolar mudando totalmente o significado.)

(*2) – Apocalipse de Pedro – Seleção feita de James M. Robinson, ed., The Nag Hammadi Library, edição revisada. HarperCollins, San Francisco, 1990.)

(*3) – Evangelho de Nicodemos = Atos de Pilatos

(*4) – Mateus 28:10

(*5) – O Evangelho Apócrifo de João

(*6) – João 21

(*7) – Mateus 28:16-20 e 1Co 15:6-7

(*8) – João 20:29

(*9) – João 15:9-17

Artigos relacionados

5 de abril de 2025
10 de março de 2025